sábado, 27 de fevereiro de 2010

Uma breve despedida

Era uma noite quente e calma, parecendo ser feita para suprir o frio que tomaria meu corpo em instantes. Os créditos de um filme passavam na TV, mas em minha mente eram outras imagens que passeavam. Abraços, beijos, promessas... Imagens de um história que parecia chegar ao fim.

Ele se aproximou, como se pressentisse o turbilhão de lágrimas que iriam correr pela minha face, e me abraçou. Disse que eu teria que suportar um tempo sem ele, mas eu temia perdê-lo para sempre. Seguiram-se segundos tortuosos de silêncio e, enfim, uma constatação. Não chegaríamos a completar os três anos tão esperados. E nós, que achávamos que seria para a vida toda.

E agora, lágrimas conjuntas denunciavam o sofrimento de ambos. Eu não chorava, sangrava. A dor era incontrolável. O ar fugia, teimosamente, dos pulmões. Ele soluçou baixinho. E, numa tentativa vã de mantê-lo perto, eu o segurava e trazia para mim. Mas eu sabia que, um dia, o tempo o levaria, e restariam apenas lembranças.

Ele olhava em meus olhos de forma vazia, e eu vi que havia outros sentimentos ali. Não era apenas tristeza ou saudade. Era raiva, arrependimento, impotência. Depois de um tempo ele falou. Disse que, se soubesse como terminaria, não teria começado. Nesse momento, eu percebi o abismo que nos separava. E eu entendi que nada que eu dissesse faria diferença alguma. Então eu me calei. Esperei. Sequei minhas lágrimas. Ergui a cabeça e disse que era tarde.

Eu tentei abraçá-lo pela última vez e fazê-lo acreditar no meu amor por ele. Mas ele se afastava a cada segundo, a cada passo. Eu não tinha o direito de contê-lo. Nem de tê-lo mais. Então eu o deixei ir. Eu disse até logo. Ele disse adeus. E nem o calor da noite era suficiente para aquecer o vazio que ele havia deixado.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010



Quantas vezes nos questionamos sobre os sentimentos dos outros, sobre o porquê de suas ações? E julgamos esses atos apenas baseados no que acreditamos ser a verdade, porém muitas vezes é somente nossa impressão, o nosso desejo, talvez, de que as coisas tenham acontecido desse ou daquele jeito. A verdade é que precisamos de uma explicação, porque de outra forma tudo fica vazio, pequenos buracos que ficarão sem preenchimento, pequenas lacunas que geram sempre mais perguntas.


Já que é assim, não seria mais fácil simplesmente perguntar? Não, não é. Pode ser o mais correto ou até mesmo o mais corajoso a se fazer, mas não é nada fácil. Porque, quando você pergunta sobre os sentimentos do outro, uma parte sua fica exposta, seus próprios sentimentos vem à tona. De repente você não é mais intocável, porque as respostas para suas perguntas podem mudar uma parte da sua vida. Podem mudar quem você é e o jeito como você olha as pessoas.


Conversar sobre como o outro se sente implica em discorrer sobre seus próprios sentimentos, se mostrar um pouco e arriscar-se a ouvir o que não se quer. Entretando, isso pode ser o que a gente precise para tapar aquelas lacunas e se sentir livre para abraçar o inevitável, aceitar que não se pode mudar o que já passou e que não é necessário explicar o amor e a amizade para que outros as entendam. Basta que você entenda. E, finalmente, fazer as pazes consigo mesma.